domingo, 3 de maio de 2009

O Declínio do Império Americano e As Invasões Bárbaras

Queridos amigos, perdoem-me a ausência, mas escrever é um ato solitário, e ultimamente não tenho estado tão só, embora saiba que a solidão não significa necessariamente estar fisicamente longe de outrem, mas que é, efetivamente um estado de espírito. Mas o trabalho me consome, dando-me a ilusão de que estou sempre junto a outros. Por isso a ausência neste blog.
A providencial solidão me fez reparar um grave erro nestes feriados. Assisti a alguns filmes obrigatórios para uma pessoa que procura, na medida do possível, refletir sobre a vida.
“O declínio do império americano” (Le déclain de l’empire americain -1986) e “Invasões bárbaras”( Les invasions barbares - 2003) são filmes obrigatórios, se temos algo a saber sobre a enrascada que é viver em um mundo, onde a busca pelo sentido da vida parece não ter fim. E quando digo não ter fim refiro-me a imensidão de pensamentos e teorias construídas para explicar o até agora o difícil de explicar: somos todos iguais ou somos todos diferentes? No que vale a pena investir, no individual ou no coletivo? Podem as metateorias, ainda explicar, inclusive, coisas da ordem do individual e do subjetivo. O fato é que foram forjadas nestas últimas décadas, em especial as últimas do século XX, um cabedal de subjetividades que buscam, incessantemente, seu lugar neste mundo de diferenças e onde a luta pela igualdade de condições de vida e dignidade são amortecidas pela fúria de uma globalização desigual e desumana. Talvez por isso os filmes que recomendo tenham mexido tanto comigo. A reflexão não pode ser um fim. Deve, antes de tudo, ser um meio de ultrapassar, ou ao menos impedir que o individual(ismo) sufoque o coletivo, que traz consigo o direito fundamental à dignidade humana.
Os intelectuais dos filmes de Denys Arcand são parte de uma elite pensadora canadense, mas cujo acúmulo de saber erudito não lhes garante o almejado frescor da vida, a inexistência da dúvida, das dores da alma, das frustrações, das incertezas. Mas o que garante o pote de ouro no final do arco-iris? As películas não têm a pretensão de responder isso. Mas talvez a fala de um dos principais personagens de “Les invasions barbares”, homem à beira da morte, Rémy, personagem magistralmente interpretado por Rémy Girard, e que reflete, naquele momento, sobre os excessos impostos pela modernidade, nos dê algum caminho: “Eu não consegui encontrar um sentido...”. Será este o mistério? Vejo isso como o desafio. Não me restam dúvidas que o encontro desse sentido é ao mesmo tempo individual e coletivo, subjetivo e objetivo, espiritual e material. Eis o nó da questão. Administrar essas tensões binárias não é fácil. A grande mensagem dos filmes é a presença providencial dos amigos, que quando verdadeiros, nos apontam algumas possibilidades a seguir, ainda que corramos o risco (salutar) de estarmos no caminho errado. Faz parte do jogo da vida. E da morte, como bem ressaltam os filmes de Arcand.
Sobre o diretor e os filmes:
Denis Arcand é um cineasta canadense, que em suas ultimas obras deixa transparecer o ressentimento com a tradição católica com a qual esteve envolvido na infância e início da adolescência, coisa que não consegue esconder em “Jesus de Montreal” (1989) Em suas obras têm procurado discutir com profundidade questões que podem ser consideradas feridas narcísicas da sociedade contemporânea. Isso fica claro em filmes como “Amor e restos humanos”(Love and human remains – 1993... maravilhoso!) no qual discute a questão da AIDS, e os indicados “O Declínio...” e “As Invasões...”, onde problematiza, através de seus personagens, questões como a sexualidade, fidelidade, intimidade, envelhecimento e sobretudo a amizade. Recomendo com entusiasmo e com a cara-de-pau de quem já poderia ter assistido!

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