quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sobre o amor e a morte...




O que se pensa ou se fala sobre as relações interpessoais, ou ainda, as relações que convencionamos chamar de amorosas ou afetivo-sexuais, envolvem um grande cabedal de reflexões. Todos sabemos teorizar ou filosofar sobre o amor, sobretudo quando estamos apaixonados ou lidamos com situações de discurso afeto em nosso dia-a-dia. Em meu cotidiano profissional costumo ouvir de tudo um pouco, ainda que às vezes somente possa dar espaço a catarse pura e imediata. Aquela que libera a respiração para outras falas que me interessam em meu processo interventivo. Mas não adianta. Tudo o que ouço está ligado, extremamente ligado, ao afeto. Não há como ignorar as falas, que sendo da ordem das relações humanas e afetivas, promovem em mim necessidades de reflexão. Daí tenho pensado no amor e na morte. Seriam instâncias meramente opostas? Não seria reducionista atribuir à falta de amor, o desejo de morrer? Mas seria esse desejo, uma aproximação concreta e consciente da morte física e biológica?
Emile Durkheim em “O Suicídio” (1897) ousou dizer que o autoextermínio teria uma razão,uma motivação social e não individual. Sendo assim o sociólogo e pai da sociologia descreve três tipos de suicídio: o egoísta, no qual o indivíduo se afasta de sua condição humana; o anômico ou original, em que se vêem obstruídas as possibilidades de se estabelecer normas e regras que valorizem a vida e o altruísta, suicídio por lealdade a uma causa. Durkheim estava parcialmente certo ou relutantemente errado, o que se pode observar com as idéias revolucionárias de Sigmund Freud acerca do inconsciente.
Contemporâneo idéias de Durkheim, Freud, sobre a morte, ou “quase” sobre a morte, fundamenta em sua extensa obra o conceito de “pulsão de morte”. Este reside na argumentação que tem como referência a biologia (e seus parâmetros positivistas)e a mitologia grega, quando vai de encontro ao mito de Aristófanes, cujo objetivo foi alcançar uma vida amorosa favorável – sua pulsão de vida – de acordo com a leitura Freudiana.
A pulsão destrutiva - de morte – sugere, assim, um retorno ao inanimado, à inércia que procede a vida. E é essa negação do “eu” vivo e constante, do pulsar da vida biológica, que o pai da psicanálise avalia como um conflito psíquico, que tem como base desejos que são aparentemente antagônicos, porque presentes na vida de todos nós, em maior ou menor intensidade. Esse é o aparente antagonismo entre a vida (Eros) e a morte (Thânatos), ao qual todos, todos, estamos sujeitos.
Em tempos de masoquismos e autoboicotes há de se fazer uma diferenciação entre estes e o amor, segundo a psicanálise inaugurada por Freud. Os primeiros se aproximam do adiamento da satisfação, da recusa da condição desejante do prazer, porque autodestrutivo. Ao amor, nos cabe vinculá-lo à sublimação que, para além das pulsões, permite o exercício do prazer, não só pelo sexo, mas em atividades psíquicas elevadas, artísticas ou ideológicas. Afastando-se dos estados de infelicidade ou comportamentos antissociais, o amor sublime parece produzir, se sublime de fato, um afastamento do “eu” inadequado à vida que pulsa. O amor não pode, portanto, sufocar. Não deve ser aquele que se justifica pelo discurso inoportuno do “eu te amo” que avança cegamente sobre o outro (ou dos outros) – que descaracteriza esse outro e que por isso pretende do outro se apropriar.
Assim, os amores doentios significam uma captura da essência do outro, que não é mais nada, senão a causa dos desejos (de TODOS os desejos) de quem supostamente se ama. Na ilusão do outro tratar-se de um “ser total”, transformamos nosso pares na fonte do impossível, do inatingível, do inumano... do perfeito.
Desta forma, o amor sublimado tem como fim gerar o belo, ainda que por caminhos tortuosos que podem percorrer, por exemplo, o estado fugaz da paixão (ainda que às vezes seja esse um caminho deliciosamente perigoso) – mas que pode avançar em direção à ética, ao sofrimento do(s) outro(s), à escuta e compreensão daquele(a) que percebemos como fonte de nossos desejos . O amor então caminha em direção à sublimação, porque se pretende sublime, ou como disse Sócrates: “O amor parece ser um intermediário entre os homens e os deuses”.
Falemos mais do amor, esse sentimento tão banalizado em nosso dia-a-dia e que por ser tão pouco compreendido fornece elementos medíocres para folhetins baratos, sem substância e sem significado para a vida que pulsa.

3 comentários:

Preta-a-Porter disse...

Nada nelhor a que o quadro de Bosch, diga-se aqui o meu favorito, para ilustrar o seu belissimo texto sobre o afeto.
O seu texto e, definitvamente, um jardim das delicias. Adooro!

Dionisio disse...

Queridíssimos!!!!
Vcs me emocionam!!!!!!!!
grande beijo e saudades!!

Unknown disse...

Bem... fico até sem palavras ao ler tudo que li. Nada melhor que uma passoa apaixonante, falr de um sentimento tão lindo: o AMOR!!!
Obrigado por encantar nossas vidas !!!!!