segunda-feira, 22 de novembro de 2010

José e Pilar


Definitivamente a vida é melhor sem solidão. Se hoje temos um discurso tão pró-individualismo, que nem ao menos conseguimos sentar à mesa com nossos pares, eis que estórias de amor, mas nem por isso cheias de tortuosas curvas, se desvelam sobre nossos olhos e nos enchem de esperança no outro. Definitivamente a vida é bem melhor sem solidão.
Tudo isso, ou tão pouco é para expressar minha alegria em ter assistido ao lado de um grande amigo, uma grande obra prima do cinema: José e Pilar.
A película, em forma de documentário sustenta, sobretudo, uma aposta no amor. Um amor, que quero acreditar, existem tantos por aí. Mais ou menos intensos, mais ou menos tortuosos, menos ou mais célebres... mas todos, todos cheios de lirismo, o que não podia ser diferente, tratando-se da relação, ou porque não dizer encontro, da espanhola Pilar Del Rio e José Saramago.
A vida, nesta obra, se apresenta em todas as suas formas, nos mostrando uma intimidade tímida e intensa, de um casal refém da admiração do mundo, tendo que administrar e conduzir, muitas vezes, o que Saramago mais criticou em sua vida: a reificação. Neste caso, a reificação de si mesmo. Coisificação de seus sentimentos, dores, velhice, de seu amor pelo mundo, de sua coerência... e suas idéias.
O comunista e ateu José Saramago e aquela que permaneceu ao seu lado, Pilar, se mostraram efetivamente dispostos a amar-se... e é essa a mensagem: ame, se assim o movimento da vida o quiser e proporcionar. À Jose e Pilar foi dado esse presente. Merecimento? Acredito que sim.
O filme, que demorou três anos para ser concluído, foi co-produzido pela O2 de Fernando Meirelles (Diário sobre a cegueira). O diretor Miguel Gonçalves Mendes acompanhou o casal em suas viagens pelo mundo, mas foi em Lanzarote, pequeno pueblo espanhol que se muniu de uma incrível capacidade de transformar o cotidiano dos protagonistas em pura poesia... e foi isso que vimos... lirismo e poesia. Nunca mais vou me esquecer da cena de quando em São Paulo, lançando o livro “A Viagem do Elefante”, Saramago declara-se cheio de verdade: “se tivesse morrido antes de conhecer Pilar, certamente teria morrido mais velho do que sou”. Assistam... por favor!



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